sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

BAIRRO DE GUARAREMA.

Do tupi ‘gwra rema’, significa ‘madeira malcheirosa’, de uma árvore da família das fitolacáceas (Gallezia gorazema), também conhecida como pau d’alho, gurarema, guarema. 
Segundo os mais antigos, era a árvore onde os lobos tinham o costume de abrigarem-se quando algum perigo rondava seu habitat.
O Bairro de Guararema, localizado no município de São Miguel Arcanjo, acha-se ilhado completamente pelas águas do Rio Lageado que o contornam no caminho que dali vai caminhando rumo ao Bairro de Capão Rico, quando então suas águas se fundem com as águas do Ribeirão São Miguel. 
Isso dificulta até mesmo a construção de fossa asséptica, pois já se atinge a água com uma escavação de apenas um ou dois metros.
Por uma questão de genealogia, iniciamos com a lista dos primeiros eleitores do Bairro que se constituía no Sétimo Quarteirão. 
Essa lista foi encontrada pela pesquisadora Luiza Válio nos arquivos da Câmara Municipal de Itapetininga, graças ao auxílio do historiador José Luiz Holtz, o popular Grilo. 
A lista teve início no ano de 1.881; dela também constam as respectivas idades dos cidadãos eleitores em São Miguel Arcanjo, todos eles lavradores nesse bairro:

Belizário Manoel de Jesus, 30 anos.
Benedito Pires de Campos, 26 anos.
João Pedro Martins, 38 anos.
João Antonio de Almeida, 30 anos.
Manoel Bento de Oliveira, 20 anos.
Salvador José de Camargo, 25 anos.
Urias de Souza Nogueira, 55 anos.
Venâncio Alves da Rocha, 28 anos.

O PATRIARCA DO GUARAREMA



Sua história teve início no ano de 1.898, quando o velho Manoel Augusto Borges (a foto pertence ao acervo da Família Válio e a letra no verso dela é do Major Luiz Válio), que chegou até a ser Intendente da Câmara Municipal de São Miguel Arcanjo, fugindo de uma grande enchente do Rio Ribeira de Iguape que destruiu sua propriedade situada na barra do Juquiá, ali decidiu fazer sua morada e de seus filhos. 
Foram dias e dias viajando com a família no lombo de burros.
Gostou demais daquele lugar e construiu duas residências.
Chamado de ‘Patriarca do Guararema’, título dado por Luiza Válio, Manoel Augusto Borges chegou ao Brasil vindo de Portugal, no ano de 1.868, com dezoito anos de idade. 
Aportou no Rio de Janeiro, onde tornou-se caixeiro viajante. 
Mudando-se para o município de Iguape, foi canoeiro, pirangueiro e até comerciante, trocando e vendendo mercadorias em toda a região da Ribeira.
Numa das margens do rio Ribeira de Iguape, residia um senhor de engenho, Joaquim Pereira, que tinha como escrava uma africana de nome Suzana das Neves, que encantou os olhos do português Manoel e a pediu em casamento. 
Tão logo casados, Manoel comprou umas terras à margem direita da Barra do Ribeira da Mota, indo do Barranco Alto até Serrote Juquiá, onde montou uma olaria. 
No ano de 1.896, houve uma grande enchente na região e Manoel, aborrecido, disse adeus a tudo e partiu dali, vindo então com a família de mudança para um lugar chamado São Miguel Arcanjo.
Foram dias e dias no lombo de mulas, à frente de alguns cargueiros contratados. 
As trilhas eram bastante íngremes. 
As mulas empinavam e quase tombavam serra abaixo. 
Quando isso acontecia, Suzana gritava ao seu ‘Bom Jesus’ e tudo voltava a sossegar. 
Chegaram antes das mulas que carregavam os mantimentos e tinham fome. Só havia café, que Suzana preparou com água e sem açúcar. Manoel não quis beber e acabou dormindo num lugar bastante aprazível até chegar a comida.
Em São Miguel, havia umas duzentas casas, muitas delas com uma porta de comércio na frente.
A partir daí, a família Borges separou-se. 
Manoel e o filho João Alexandre, o Jangico, ficaram entre os Bairros do Tijuco Preto e Rio Acima. 
Pedro Alcântara Borges, o outro filho, seguiu para o bairro do Guararema. Por pouco tempo, porém, pois a família era assaz unida.
Claro que o lugar apresentava muitas nascentes, mas a família achou que não haveria nenhum problema de grande monta por ali.
Como dizia Manoel, ‘enquanto a escassez de água no mundo é fato, no Guararema é benção divina’.
E é verdade, pois existe nascente de água até no campo de futebol.
Em 1.906, Pedro Borges plantou o primeiro coqueiro perto da cachoeira do bairro.
Em 1.915, Jangico conheceu Francisca Elisa e em 24 de junho de 1.918 casaram-se em Sete Barras, permanecendo juntos durante 78 anos. São filhos do casal: João Nascimento, o Jango; Alice das Neves; Maria dos Santos; José da Glória; Tereza da Glória; Maria de Lourdes; Maria Aparecida; Alexandre de Jesus e Antonio dos Santos.
Esses fatos sobre seus antepassados portugueses foram relembrados por João Nascimento Borges, cidadão muito respeitado no lugar, no ano de 2.003, quando em visita ao ‘Museu Tenente Urias’, à Rua Cônego Francisco Ribeiro, 1.350. 
Foi assunto para uma bela reportagem intitulada ‘Guararema: em busca do tempo perdido’, da pesquisadora e jornalista Luiza Válio que pesquisando um pouco mais, conseguiu novos dados sobre o patriarca Manoel.
Em 1.913, ele foi intendente da Câmara Municipal. Membro do Partido Democrático, foi presidente da Comissão
A história tem meio: A primeira capela católica foi construída em 1.900 e era dedicada a Santa Cruz.
Foi na primeira festividade em prol à paróquia, no mês de maio do ano seguinte que Manoel Augusto, definitivamente também radicado no Bairro, convidou todos os cidadãos dali para ajudarem-no a abrir um picadão saindo dali para unir São Miguel com Sete Barras e toda a região. 
Pois foi no mesmo dia que começaram a subir pelo sertão. 
Os que não ajudaram com a força e a coragem, ajudaram na coleta de mantimentos para a tropa.
Durante três longos anos se embrenharam na mata cerrada, seguindo a trilha dos caçadores do Rancho Juçara Lavada. Essa trilha saía pelo terreno de Virgílio Brisola, ao lado da capela de Santa Cruz, ia para Barro Branco e outros lugares. Serviria para trazer víveres, peles para vestimentas, peles de veados pardos para fabricação de laço- o melhor couro .
Muitos, porém, não quiseram participar da expedição.
Esse picadão deu origem à estrada atual, facilitando o serviço dos engenheiros, porque a história não pode ter fim.

A primeira escola do bairro funcionou numa sala alugada a Pedro Correia, depois, numa sala anexada à casa de Raimundo Marques, até que se construiu, finalmente, a escola municipal.
Tanto a escola como a pequena Praça Nossa Senhora Aparecida e a Igreja junto da praça faziam parte de um imenso banhado pertencente ao sr. Antonio de Souza, um dos antepassados do Tenente Urias. 
Este senhor é que fez a doação de toda a vasta área, que teve que ser aterrada, para comportar as referidas construções.
A capelinha dedicada a Nossa Senhora de Lourdes, recentemente reformada pela Prefeitura, localiza-se também às margens da rodovia e foi construída há mais de sessenta anos.
Distante apenas oito quilômetros do Parque Estadual ‘Carlos Botelho’, seus moradores vivem da produção de uvas, hortaliças e cereais.
O gado é pouco. Existe uma olaria que faz tijolo bom, pois o barro é bom, mas está necessitando de reparos.
Instaladas nas imediações, acham-se as conhecidas empresas Suzano Cia. de Papel e Celulose, Duratex e Eucatex.
Os mais antigos, principalmente os descendentes de Manoel, acreditavam que no lugar existiu e ainda pode existir muito minério a ser explorado. 
A lenda da ‘mãe do ouro’ é crença que surgiu há muito tempo. 
Dizem que de acordo com a lua, uma bola de fogo brilha na mata e quando ela aparece denuncia a existência de ouro. 
Já apareceu não raras vezes, dizem alguns dos seus moradores.
Hoje, os moradores só desgostam dos turistas que por ali passam a caminho do Parque Estadual, pois usufruem das regalias da natureza e não deixam nenhum benefício, a não ser muito lixo, tanto para o próprio bairro-sede, Taquaral Acima (conhecido como Abaitinga), como para os bairros vizinhos, que acaba destruindo o meio ambiente e trazendo inúmeras doenças. 
Também a segurança já os preocupa, visto ser o Parque um ponto que recebe toda sorte de gente vindo de vários pontos da região e do país.
A foto a seguir, do acervo de Luiza Válio, é de alguns alunos do Bairro.


Representantes do Bairro estiveram reunidos no dia 09 de fevereiro de 2.003, e com o apoio das autoras deste livro, tentaram fundar a Associação de Moradores, mas, a exemplo de "Abaitinga", não deu certo, pois alguns políticos temem perder votos: uma associação pode acabar tornando-se forte e eleger seu próprio vereador e, daí, os atuais políticos fazem tudo para dissuadi-los da ideia. 
Segundo ‘Jango’, foi ele que muito batalhou junto às autoridades para que voltassem seus olhos para aquela região e o próprio Bairro recebesse alguma melhoria, principalmente reivindicando acostamento no trevo de São Miguel até o Parque. 
Também a construção de um abrigo para os usuários de ônibus foi pedido seu.
No ano dessa entrevista, o Posto de Saúde local não contava nem com injeção contra gripe. 
O caminhão de lixo parou de visitar o lugar, tanto que as latas de lixo apodreceram. 
Muitos dos pequenos produtores ainda tinham problemas a resolver junto ao INCRA. 
O artesanato, que poderia constituir-se numa fonte de renda, mesmo que pequena, mas jamais foi estimulado
pelos poderes públicos.
São-miguelenses conhecidos, como Gentil de Souza, Moacir Válio, Bernardo Pedroso e João Teobaldo lá tiveram seus armazéns de secos e molhados.
A Escola do Bairro foi denominada "Escola Carmelita Terra Vieira". 
No ano de 2.005, por ocasião do aniversário da cidade, a direção da escola trouxe o menino Jeanf Carlos, já berranteiro na época, para uma apresentação. 
Veja abaixo um poema encontrado nos guardados de Francisca, o qual foi repassado para Luiza Válio alguns anos atrás:

‘O nosso velho Medeiros
Que era a flor dos fazendeiros
Por sua alcalidade
Esfregava a mão contente
Para fazer amizade.
Estava firme no posto
Fazendo o tacho ferver.
Fazia doce de coco,
Laranja, sidra e limão.
Bombocado, arroz de leite,
Tareco e baba de moça
Mil doces que na roça se faz.
Por entre os folhos escuros
Havia frutos maduros
Como é o costume geral
Uma boneca vistosa
De vestido cor de rosa
Fazendo tope final.
Duas linhas de coqueiro
Saiam na porta da casa
Se dirigindo e se desfazendo.
- ‘Ó Jó’, pergunta sinhá,
‘Se tem café, manda aqui na porteira.
Vai tu com ele, Francisco.
Manoel, varre prum canto,
Depois apanhe esses ciscos.
Não quero ver uma palha
Entre as folhagens de mangueira.’

Este poema foi guardado por Francisca Elisa Borges, mãe de oito filhos, entre eles Janjão e José da Glória, moradores no bairro de Guararema, eles que tiveram como avô o grande patriarca do bairro, o cidadão Manoel Augusto Borges, que sempre pertenceu ao Partido dos Democratas. 
José da Glória traz os versos decorados sempre na ponta da língua.
Pela lei estadual 9621, de 05 de maio de 1.997, foi dado o nome de João Alexandre Borges, o Jangico Borges, pai do José da Glória e do Jango, à ponte sobre o Ribeirão Lajeado, localizado no Bairro.
No ano de 2.003, por ocasião da 20a. Festa da Uva, o viticultor Luiz Carlos Boro, do Bairro, foi premiado devido a ter apresentado o cacho de uva Itália mais pesado: 3.380 kg.
No ano de 2.004, as águas do Rio Lajeado, outrora claras e geladas, de diversas e lindas cachoeiras, tornaram-se bastante turvas em consequência da enorme quantidade de esgotos domésticos que nele eram despejados. 
Os peixes, uns morreram, muitos foram embora, como alegam os moradores. 
As crianças nem ao menos imaginavam os riscos que corriam quando banhavam-se nessas águas.
Nossa Senhora Aparecida protege os moradores do Bairro que dista cerca de 14 quilômetros da sede do município, São Miguel Arcanjo.

Folclore de lá: "A Banda Perdida"

A professorinha recém formada em Itapetininga, Zenith Galvão Terra, teve seu primeiro trabalho educativo em São Miguel Arcanjo, no Bairro de Guararema, lá pelos anos 1.946/ 1.947.
Coube-lhe uma escola mista.
Ela mesma contava que o ônibus a deixava uns dez quilômetros distante da escola e tinha que percorrer esse trecho a pé, sujeita ao ataque de andantes, com seus sacos às costas, e de animais selvagens, inclusive onça, como afirmavam os moradores . Mas não havia outro jeito. Pior quando chovia e a estrada ficava intransitável.
Foi numa dessas manhãs, caminhando tranqüilamente sob o sol ameno de abril que ela ouviu uma orquestra maravilhosa, uns sons extraordinários que pareciam vir lá da sua escolinha, ainda distante alguns quilômetros.
Estranhou bastante, apressou o passo. Pensou que poderia ter sido uma brincadeira no dia do seu aniversário, mas...nem era seu natalício! Algum rádio? Mas ali não havia casa alguma, era só capoeira alta!
Que coisa!
Sobressaltada, o coração pulando dentro do peito, foi chegando devagar, devagarzinho, e quanto mais se aproximava, mais a banda silenciava...até que desapareceu.
O dia passou.
Zenith calada, só cogitava. Não expôs à classe nada do que havia presenciado, ao menos, espiritualmente.
Depois da aula, decidiu ir até a venda do Pio Válio, pertinho da capela do lugar. Quem sabe ele poderia explicar, ele que era músico, tocava bandolim e também curava as pessoas de muitos males.
Servindo um copo de água para a mestra, ele ouviu o relato, depois parou e olhou bem nos seus olhos, meio complacente e desconfiado:
- Dona Zenith, eu costumo ouvir essa banda na sua escola, mas só quando engulo umas cachaças a mais, mas...a senhora?
Mais do que assustada, a professora comprou ali na venda mesmo o último crucifixo que havia e pendurou-o para sempre do lado de fora da porta da escola.
Ainda ouviu a tal banda tocar umas três vezes.
Depois, nunca mais, graças a Deus.
Deve ter sido o crucifixo!

- Do livrete "Causos e Conformes" - volume I- publicação da Associação Casa do Sertanista de São Miguel Arcanjo- Editora Trombetti - 2.010.

NOTAS POLICIAIS E OUTRAS NOTAS PUBLICADAS NA IMPRENSA LOCAL

Como em todo lugar, também lá há violência.
Em agosto de 1.991, lá foi encontrada morta uma recém nascida. Segundo investigações, era filha de Silvana Braz de Souza que teria tido um relacionamento amoroso com Carlos Roberto de Camargo, trabalhador na Construtora Tardelli que pediu à moça que fizesse um aborto, no que não foi atendido. Quando sentiu as dores do parto, a mulher se dirigiu até um córrego que passava atrás do quintal de sua casa e lá deixou que a criança caísse na água; ao retirar o corpo da água e percebendo que o mesmo já se encontrava sem vida, pediu a ajuda da mãe e enterrou perto dali. Um dia, o mau cheiro fez com que uma vizinha se empenhasse em vasculhar o local até encontrar o cadáver de uma criança, comunicando o fato à polícia de São Miguel. 
O Delegado da época era o Dr. Reinaldo Antonio D. Ferreira. 
No setor esportivo, um amistoso que deu o que falar aconteceu em 1.995, quando a equipe de futebol feminino do bairro foi goleada em 15x0 pela equipe do Esporte Clube São Miguel comandada por Antonio Bonafonte, o popular ‘Boi’.
Em maio de 1.995, João Dark Ribeiro, morador no bairro, completamente embriagado, provocou grandes estragos no estabelecimento comercial de Armelindo Loureiro Bexiga, onde, depois de ofendê-lo com palavras, quebrou uma estufa de salgadinhos e atirou no mesmo.
Na noite de 28 de dezembro de 1.995, assaltantes roubaram duas caminhonetes, televisão colorida, vídeo cassete, aparelho de som 3 em 1, freezer, geladeira e dois celulares pertencentes ao viticultor Romeu Caim, depois de dominarem a esposa dele, Silvana de Moraes. 
Em 2.001, diversos contraventores como palmiteiros, caçadores e pescadores portando material ilegal foram ali surpreendidos. Tráfico de entorpecentes e crimes sexuais envolvendo até adolescentes aumentavam na localidade.
Consta que no ano de 2.001 um piloto comandante aviador que aposentou-se depois de ter voado cerca de 16 mil horas era proprietário de um sítio no lugar. Chamava-se Antonio Alfredo Baliú.
No ano de 2.002, elementos armados e encapuzados renderam o casal Rose e Antonio, roubando dois caminhões.
As notas reproduzidas da imprensa local:

































ESBOÇO DA ASSOCIAÇÃO DE MORADORES CRIADA EM 2003:







3 comentários:

  1. Muito orgulho em ser #tataraneta de Manoel Augusto Borges,neta mais velha de uma de suas netas #Maria de Lurdes,ele,um grande homem.....mais tenho vergonha de ver q mesmo sendo anunciado q as aguas de #guararema,estso sendo (POLUIDAS),pelos esgotos domesticos da região os #governantes os AMBIENTALISTAS,NAO TOMAM NENHUMA PROVIDENCIA....EU QUANDO MTO MENINA,ME BANHEI DIVERSAS VEZES NOS RIOS DE GUARAREMA....EU AMAVA...E DEIXO AQUI MHA INDIGNAÇÃO DE SABER Q TUDO ISSO ESTA ACABANDO POR NINGUEM TOMAR ATITUDES DEVIDAS.😢😢😢

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  2. Eu vanecleia filha de Alexandre de Jesus Borges sinto muito orgulho de pertencer a esse família

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  3. Muito interessante a história de Guararema

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