domingo, 18 de agosto de 2013

UM POEMA DE ORLANDO PINHEIRO / 39 ANOS ATRÁS:

CANTO ACRÔNICO

Viajei pelos longos anos
De quando viajar podia
Por terras que nunca vi
Caminhos que nunca andei
Em passos que passam tempo
Na luta de procurar
Um mundo que foi só meu...
O meu cavalo de pau
Domei porque fui herói
Dos ventos dos quatro cantos
São Jorge, pisei na lua
Não na lua americana
Onde o povo fala inglês.
Pousei na lua vadia
Virgem de versos puros
Só de bardos namorada
Que bela lua vadia
Acompanhando meu sono
Em qualquer ponto da estrada
Nas altas horas da noite
Velando meu sonho novo
A dormir comigo ao relento
Num sonho de liberdade
Viajei por longos anos
No Mar da Tranquilidade
Onde só por fantasia
Fiz meus barcos de papel.
À noite, só por descrença
Transformava mentalmente
Velhas estrelas brilhantes 
Em mil bolhas de sabão.
Como um menino travesso
Embriagado de amplitude
Do viver de doce em doce
De comprar de venda em venda
Mil pedaços de ilusão...
Viajei pelos longos anos
Por terras que nunca vi
Em prados que não pisei
Com meus pés físicos, pó
Que ao pó hão de retornar.
Viajei num sonho, quimera
Da mente que vôa alto
Pedindo asas ao versos
Que nascem de uma ilusão
...O mundo que foi só meu
De repente virou pó
Não posso mais encontrá-lo.
E sigo sem ter fronteiras
Sem saber pra onde vou
Sem saber que norte eu sigo
Sem saber porque é que eu vou
Adeus meu antigo mundo 
Adeus para nunca mais... 

(1974)