terça-feira, 26 de junho de 2012

A IDEIA DE UM CORETO NA PRAÇA TEM QUASE CEM ANOS.




Foi assim:

A Câmara Municipal de São Miguel Arcanjo, em sua última sessão do mês de abril de 1.914, resolveu proceder o calçamento e o sargeteamento do Largo da Matriz, para o que autorizou o então prefeito Antonio de Oliveira Terra a firmar contrato com os srs. Fogaça & Ricardo, proprietários de uma olaria que aqui existia, para o fornecimento da quantia de tijolos que para esse fim julgasse necessária.
"Além de um coreto que também será edificado no centro do Largo, será este elegantemente arborizado, tendo já a Câmara Municipal requisitado da Secretaria da Agricultura as mudas de árvores precisas, sendo todas de qualidades as mais apropriadas para ornamentos". 






Acima, o atual coreto, ainda em construção, na década de 40.
Fonte: Jornal "Estadão", edição de 02 de maio de 1.914.

HOMENAGEM AOS EXPEDICIONÁRIOS




Este artigo foi escrito por Ferdinando Cipó Júnior, pseudônimo de Luiz Válio Júnior, grande jornalista sãomiguelense, que presenciou o fato:


“Logo após o término da guerra passada, a chamada Segunda Guerra, o comando das nossas Forças Armadas determinou às prefeituras do Brasil todo a plantação ou transplantação de uma árvore em homenagem aos expedicionários brasileiros.

Não tomamos conhecimento se a determinação foi cumprida à risca, como seria o caso, no país. Agora, o que temos certeza é que ela foi cumprida aqui em minha terra natal, pois a presenciei.

Era uma manhã amena, de um sol cálido a iluminar os olhos dos são-miguelenses que se reuniram, na ocasião, em frente à Igreja Matriz localizada no coração da cidade.

Isso foi no ano de 1.945, lá pelo mês de agosto ou setembro.

Um grupo de gente constituído de crianças da escola primária, única existente na época, autoridades pertencentes a Executivo municipal (ainda não tínhamos no país o Legislativo), policial e demais pessoas de destaque na comunidade e os pracinhas locais que participaram do conflito. Estes, garbosamente ostentavam suas fardas de batalha e condecorações, sem esconder certa emoção que se aprofundava em suas almas de heróis.

Um tenro e belo pé de jacarandá foi fincado no local. Ele foi extraído da Fazenda Bom Retiro, então propriedade de Luiz Válio, que na ocasião exercia o cargo de Prefeito Municipal, nomeado pelo saudoso Fernando Costa, interventor em São Paulo.

O nobre jacarandá dos versos de Guilherme de Almeida incrustado no Hino ao Expedicionário, ali permaneceu até as ordens funestas de Francisco Fogaça de Almeida, que o decepou, substituindo-o por uma lápide fria. Já estava atingindo uns quinze metros de altura o espécime vegetal dos mais apreciados pela natureza brasileira e das fábricas de móveis finos. Isto se deu às vésperas de um pleito em que postulava o cargo de prefeito um primo do prefeito derrubador do jacarandá.

A política naquele tempo desenrolava-se em um clima bastante agitado devido a rixa familiar então existente entre as facções em disputa eleitoral. E, justamente por isso, depois de picado, o adorado jacarandá dos pracinhas José Expedito Machado, Gabriel Ferreira de Proença, Antonio Hermenegildo, Ibraim José Nader, Rachid Elias Nader e Adib Miguel foi arrastado na rabeira de vários veículos pelas ruas da cidade, na mais grotesca provocação que a história de São Miguel Arcanjo registrou, mas que por capricho do destino da política obscurantista, apagou-se talvez, até esta crônica que temos a oportunidade de escrever.

E ela veio à tona em virtude de uma notícia aqui da terrinha sobre o caso, publicado no dia 14 de outubro, neste jornal, que infelizmente trocou as bolas sobre o fato, em vários tópicos.

Não deixamos de pensar que pesa um grande remorso na memória do cassador dos direitos de existência do querido jacarandá dos pracinhas de São Miguel Arcanjo, assim como imaginamos que se tal crime se desse hoje o destruidor do símbolo vegetal estaria às voltas com o Código Florestal, que agora é mais severo com as derrubadas de árvores, principalmente as que são consideradas monumentos.

Não deixamos também de pensar que houve uma vingança por parte do magnetismo corrente, talvez, exercido pelo vácuo sentimental da alma do jacarandá, porque, tentando sua volta à Prefeitura, numa outra eleição, quase subseqüente, Francisco Fogaça de Almeida, vendo-se derrotado e desfibrado politicamente, deixou a terra indo para outros confins.

No lugar do jacarandá, ele deixou a pedra calada. Sem folhas. Sem aroma. Sem sombra. Sem o tronco amado. Sem os galhos para os pardais”.


OBS: O aludido monumento, no ano de 2.000, foi quebrado por vândalos, mantendo-se por longo tempo esquecido na praça, até que as autoridades tomassem alguma providência. 
A marca desse crime jamais deixará de existir, pois continua no monumento como se fora uma cicatriz.