segunda-feira, 25 de junho de 2012

PADRE CARLOS REGATTIERI


O padre Carlos Regattieri - na foto ao lado do médico Antonio Aruk, esposo de Angelina Miguel Aruk - esteve à frente da Paróquia de São Miguel de abril de 1933 até maio de 1944, em substituição ao padre Olegário Barata.
No seu tempo foi criada a Irmandade dos Anjos, um grupo religioso formado por crianças entre sete e dez anos de idade, as quais eram identificadas por usarem uma fitinha rosa.
De São Miguel, esse padre foi para o município de Cerquilho. Foi ele quem celebrou o casamento do médico Pedro Contier Pinerolli com Ida Aires, no ano de 1.928, em Itapetininga. Fez um belíssimo discurso de saudação e conselho aos noivos.
Noticiado pelo jornal “Tribuna Popular”, teve farta mesa de doces. O baile realizou-se no Clube Venâncio Ayres, a orquestra esteve sob a batuta do Maestro Cacciacarro. A lua de mel do casal foi no Rio de Janeiro.
Só para ilustrar, o noivo deu à noiva um anel distintivo, um anel com brilhante, um relógio pulseira e um pendentif. A noiva deu ao noivo um termômetro de ouro, uma cigarreira e um tinteiro de prata. Os pais da noiva deram ao noivo um par de abotoaduras de ouro gravadas e os pais do noivo deram à noiva um cheque. Também deu um cheque aos noivos o Coronel Antonio Vieira Sobrinho. O Coronel Joaquim Fogaça de Almeida deu um aparelho de porcelana para jantar.
José de castro Rosa e senhora, um par de almofadas e um serviço de prata para café. Edmundo Camargo e senhora, um aparelho de prata para chá. A família Santos Prado, um termômetro de ouro com brilhantes e esmeraldas. De Mário Ferraresi, um vidro de perfume. De José Gorgioni, um serviço de prata e cristal para sorvete.  

CONSTRUÇÕES EM 1.915




A Câmara Municipal, em sessão extraordinária efetuada no dia 10 de fevereiro de 1.915 resolveu construir dois prédios nesta cidade, sendo um para a instalação da sua sede - na foto, à esquerda - e outro para servir de mercado municipal, onde hoje está instalada a pré escola, à Rua Monsenhor Henrique Volta.
Os trabalhos tiveram início no princípio do mês de março daquele ano.
Nesse mesmo dia e ano, foi nomeado Delegado de Polícia nesta cidade o Tenente Antonio Fogaça, quando o prédio do posto policial achava-se abandonado, com as obras iniciadas em 1.913 completamente paralisadas. 
No dia 19 de fevereiro desse mesmo ano, às noite, no Largo da Matriz, realizou-se um grande leilão de prendas cujo resultado seria revertido em benefício das obras da nova Matriz. 
Pela respectiva comissão, foram espalhadas por toda a cidade e município circulares pedindo prendas.

MULHER MATA O MARIDO A MACHADADAS EM SÃO MIGUEL ARCANJO.


Nos arrabaldes desta cidade, num lugar denominado Chácara "Pedro Seabra", verificou-se um crime de morte do qual foram protagonistas João Ribeiro e sua mulher, Ana Seabra Ribeiro, que ali residiam em companhia de seus filhos.
Aconteceu no dia 11 de novembro de 1.936.
João Ribeiro, ao voltar da roça, teve uma ligeira discussão com sua mulher.
Esta aguardou o momento em que o marido dormia para vibrar-lhe violenta machadada, que lhe esfacelou todo o rosto.
As autoridades seguiram para lá, providenciando a remoção do cadáver do marido para a cidade.
A criminosa foi presa e recolhida à cadeia pública local.

EVENTOS DO ANO DE 1.941.


NÚCLEO COLONIAL DR. CARLOS BOTELHO


O Sr. Dr. Fernando Costa, Interventor Federal neste Estado, acaba de prestar a este município mais um grande serviço. Trata-se da criação do Núcleo Colonial Dr. Carlos Botelho em terras pertencentes ao Estado, situadas á margem direita do Rio Taquaral e servido pela importante rodovia São Miguel - Sete Barras.
A ideia da criação deste Núcleo vem desde os tempos em que S. Exa. era Secretário da Agricultura no governo Júlio Prestes.
Naquela época, pensava-se em colonizar as margens da importante rodovia, cujas obras já tinham sido iniciadas.
O seu nome, bem como o de Júlio Prestes, permanecem gravados no bloco de granito, marco inicial da citada rodovia São Miguel - Sete Barras, a qual ainda não foi terminada.
Os serviços de reconstrução e acabamento dessa estrada estão sendo atacados com redobrada intensidade, conforme determinação do ilustre Interventor paulista.

CULTURA DA MANDIOCA

O proprietário da Fazenda "Santa Maria", neste município, sr.  Anielo Martusceli, já terminou a plantação de uma área de 200 alqueires de terras de sua propriedade em ramas de mandioca, prevendo-se extraordinária colheita da preciosa raiz na época oportuna.
Calcula-se que no município existam mais de mil alqueires de terras com plantações de pequenos lavradores, cujos mandiocais, com o auxílio do tempo, obterão bons resultados.
O que falta aos lavradores de mandioca é uma fábrica mais próxima as suas lavouras, a fim de evitar aborrecimento e mesmo prejuízo de transporte do produto.
Uma das fábricas, de Itapetininga, instalada no centro daquela cidade, poderia ser transferida para cá, embora não tivesse a capacidade necessária para industrializar toda a produção do município.

                               ESTRADA DE RODAGEM

A Companhia Almeida Prado de Mineração já iniciou os serviços de abertura de uma estrada de rodagem, a qual partindo do Bairro de Taquaral, neste município, vai ter à margem direita do Rio Ketá, onde está sendo explorada importante mina de ouro existente em nosso Estado.
A estrada em apreço passará por extensões de terras de excelente qualidade para cultura de cereais, em sua maioria pertencentes ao Estado e muito próximas do Núcleo Colonial Dr. Carlos Botelho, há pouco criado pelo governo do Estado. 

                                 COLETORIA ESTADUAL

Segundo dados fornecidos a este jornal pelo coletor estadual, sr. Ademar Bittencourt, a renda do Estado neste município, no exercício de 1.940, foi a seguinte:

Arrecadação geral.......................   348:346$400.
Despesas com o professorado, a polícia, Fazenda e funcionários da Coletoria, etc.: .......................    146:697$500
Saldo a favor do Estado..............     201:648$900

Segundo cálculos, este município tem capacidade para gozar dos benefícios da criação de uma Coletoria Federal.
A renda desta ultrapassaram a soma de 120 contos de reis anuais.

16.11.1941.

AUTORIDADES EM 1.928.


Foram eleitos vereadores em novembro de 1.928, os senhores:
José dos Santos Terra
José Fogaça
Benedito Antonio de Souza
Manuel França 
Benedito Coelho de Góes
Edwiges Monteiro.

Só Edwiges pertencia ao Partido Democrático. 
Os outros eram do Partido Republicano Paulista, o PRP.
Compareceram 191 eleitores, sendo 147 do PRP e 44 do PD.

Também foram eleitos nesse dia os Juízes de Paz
João Colaço de Almeida, 
Pedro Galvão Nogueira 
e Ernesto Cauchioli.

ESTATÍSTICAS IMOBILIÁRIAS

No mês de janeiro de 1.932, adquiriram propriedades rurais em São Miguel Arcanjo:

1. Manuel José Bueno de Camargo, sendo 50 alqueires no Bairro da Justinada;
2. Antenor C. Siqueira, sendo 4 partes de terras no Ribeirão do Moínho;
 3. Abílio Ibrahim, sendo 8 alqueires no Bairro Alegre Pilar;
 4. Pedro José de Lima, sendo 5 alqueires no Bairro do Turvo;
 5. Cesário e José Nunes Vieira, sendo 5 alqueires na Capoeira Grande, Bairro do Retiro;
 6. Joaquim Nunes Ribeiro e outros, sendo 60 alqueires no Bairro do Retiro.

Fonte: Estadão: 31.01.1932.

O FUMO DE SÃO MIGUEL ARCANJO, SEGUNDO ALUÍSIO DE ALMEIDA.


O Monsenhor Luiz Castanho de Almeida nasceu aos 06 de novembro de 1.904 em Guareí e foi ordenado padre em 08 de maio de 1.927 pelo Bispo Dom Aguirre. Mas foi como historiador que deixou sua marca indelével de escritor/pesquisador principalmente de eventos pelo interior de São Paulo.Faleceu no dia 28 de fevereiro de 1.981.
Em nossas pesquisas sobre São Miguel Arcanjo junto ao acervo do "Estadão", chegamos a um texto escrito por ele na edição do dia 06 de abril de 1.947, intitulado:

"MESTRES FUMEIROS"

"Em São Miguel Arcanjo, além Itapetininga e, hoje, à beira da estrada de rodagem São Paulo - Curitiba, a cultura do fumo foi introduzida pelos seus primeiros povoadores, aí por volta de 1.840.
Eles eram em grande parte originários do Sul de Minas, uns e outros paulistas das fronteiras com Minas, parentes do fundador Tenente Urias, os Nogueiras, os Terras, os Galvão, os Ribeiros e Carvalho, estes de São João del Rey, descendentes de uma das três famílias ilhoas.
Os netos desses povoadores contam que os sulmineiros trouxeram da terra os seus métodos e, tudo o indica, as primeiras sementes de fumo maependi, de Baependi, o município mineiro que desde o século 18 repartia com o de São Sebastião, paulista, a honra de produzir o melhor fumo.
Se um dia o leitor escrever um romance histórico do século 18, pode por na boca de seus personagens uma cachimbada de maependi e um cigarro de fumo da Ilha.
A Ilha é de São Sebastião, mas o fumo é do Continente: uma figura de retórica nos domínios do tabaco.
São Miguel Arcanjo, e muito menos Itapetininga, não eram sertões desconhecidos há um século. E, pois, já conheciam outra variedade de fumo, a que chamavam ituano, na falta de outra indicação.
Essa questão de onomatologia é uma encrenca.
É possível que não haja fumo ituano, ou deles não saibam os "fidelíssimos".
Mas em São Miguel Arcanjo, fumo que não é maependi, é ituano.
Ainda hoje.
Bem sabemos haver por aí muitas variedades, fruto do saber de experiências, feito Brasil-Bahia, Sumatra, Herzegoviana, Sansum, Porsucian, e não muito popularizadas, mas não escrevemos para botânicos e agrônomos e, sim, assinalamos os costumes mais usuais.
E muitas vezes os nomes de Rio das Pedras e Tietê não indicam mais que uma variedade de técnicas, de terras, etc.
Os fumadores que se prezavam, antigamente, e talvez até hoje, davam a vida por um goiano legítimo ou um baiano.
Diziam guiano, como os bandeirantes diziam guaianos.
A esta vaga de populações em êxodo para o Sul de São Paulo corresponde, pelos meados do século e na guerra do Paraguai, uma outra de mineiros e paulistas dos limites, na Camanducaia, todos alcunhados de braganceiros.
O fumo de Bragança Paulista é, ainda, apreciado.
Tudo leva a crer que as técnicas do plantio e fabrico fossem os tradicionais do sul de Minas, por base Baependi.
Enfim, outra vaga será exagero, mas outros indivíduos mineiros abandonavam suas terras exaustas e vinham vindo para os sertões de Piracicaba.
Aí, em bairro que depois se fez o município de Rio das Pedras, surgiu a indústria do fumo hoje estimado.
Eram sertões, em parte, mas povoados de ituanos, entre outros, pois já se conhecia a técnica, digamos, paulista.
Pessoa de toda confiança julga, porém, que no início os fumeiros de Rio das Pedras eram pobres sitiantes que aproveitavam a feracidade das terras (de pedra de fogo e barro preto) para fumarem sem comprar.
Os colonos italianos, que vieram com a marcha do café, perceberam o lucro que teriam e entraram de rijo na lavoura de fumo.
Para prova, os italianos e seus filhos e netos são os atuais fumeiros em Rio das Pedras.
Então, são noções de tradição, sem os números exatos que exigiria um trabalho de economia, científico. 
Será curioso se um exame mais aprofundado dos fatos e estatísticas (se existirem, mesmo incompletas), comprovar a nossa hipótese de que o fumo acompanhou também a marcha do café, como uma tentação de ganhar dinheiro fácil e uma consequência: a fixação de elementos que, doutra sorte, seguiriam a viagem da rubiácea.
Neste pensamento está exposto não em hipótese mas em números eloquentes por Sérgio Milliet, quanto ao algodão, à laranja, à industrialização que foi ficando atrás do café, devassador dos sertões.
Seria também para notar que os colonos italianos eram consumidores, e famosos os seus cachimbos.
Isto foi principalmente próximo da Abolição, na zona de Piracicaba.
É desde aí que o pito de barro - com seu longo canudo - cede lugar ao de madeira estandardizado, sem a feição de arte individual do primeiro.
Começaremos, porém, a descrever rapidamente as técnicas observadas atualmente pelos sitiantes de São Miguel Arcanjo, e que representam, lá, um século e, no Brasil, talvez dois ou três, de tradições e "ne varietur".
Em agosto e setembro, após as queimadas e as primeiras chuvas, faz-se a sementeira em canteiros frescos.
Qualquer terra dá fumo; a melhor é a vermelha, contanto que as chuvas ajudem, pois é muito seca. 
Dois meses depois de semeado, faz-se o transplante para as covas.
Preferem terra nova, recém-queimada e roçada; ainda não estão usando o arado, nem mesmo o enxadão para revolvê-la.
As covas de uma mesma fila ou carreira, feitas a enxada, distam quatro palmos uma da outra, e cada fila observa o intervalo de cinco palmos para com as vizinhas.
Para facilitar as limpas e a colheita. 
Dois meses depois do plantio em covas, o fumo atingiu a altura necessária e faz-se a capação, que lá se diz mais, "despontar" e imediatamente é preciso "desolhar".
Despontar é tirar as pontas onde viriam as flores, o que tira a força às folhas; naturalmente, reservando alguns pés para semente.
Desolhar é tirar os olhos ou brotinhos no vão das folhas, os quais os prejudicariam tanto como os "ladrões" a outros vegetais.
Tudo a mão, muito moles os talos.
Um mês depois, completou-se a formação da planta, que amarela ou amadurece.
Faz-se a colheita, mas então, o serviço é apurado, faz-se o pequeno muxirão com os vizinhos oficiais do mesmo ofício, ou pagam-se trabalhadores de jornal, mocinhas, meninos, o que não é lá muito encontradiço.
Num rancho coberto de sapé, faz-se o estaleiro ou prateleira, em volta das paredes e no meio a bolandeira, e espaço para trabalhadores em comum.
As folhas colhidas ficam penduradas nas taquaras, com uma ponta menor firme entre elas e as prateleiras também de bambus, ou melhor, entre duas taquaras, e prateleiras do chão ao teto, para secarem.
Antes de pendurá-las, é preciso "destalar", tirar os talos, à mão.
Toda a família e vizinhos trabalham até tarde da noite.
Esses talos vão imediatamente (ou iam) para o forno do tabaco.
O cambito é uma tábua chata com dois furos nas pontas para receberem dois pauzinhos, um destes com um gancho para prender as folhas.
Com a ajuda dele, formam-se as cordas de fumo, ligando as folhas entre si. Estas cordas, alcançando aí um metro de comprimento são cochadas entre si em três cordas e enroladas na bolandeira. Esta é um pau girando por dois braços exteriores, entre dois esteios. Nele se adapta o pau de fumo.
Os rolos de fumo ficam quarenta dias ao sol, sempre enrolando-os e desenrolando-os todos os dias o fumeiro.
Enrolar de modo que uma camada não coincida na mesma direção da anterior, mas quase em diagonal e com espaço maior para entrar o ar e, assim, curar o fumo e gradear, e isso se faz nesses dias até o enrolamento definitivo.
Cobre-se, então, o rolo com folha de bananeira, palha de milho amarrada em embiras e vai para a cangalha do burro ou o caminhão.
Atualmente, 500 arrobas por ano, outrora mais de 1.000, eis a produção de São Miguel Arcanjo.
Um alqueire de chão corresponde a 30 mil pés, de que um só homem pode cuidar, se tiver ajudantes para a colheita e o fabrico.
A plantação é o fumal; o fumo ponteiro, o melhor, vem das folhas de cima; o fumo baixeiro, o pior, das folhas de baixo, baixeiras.
Vejamos agora o processo em Rio das Pedras.
Quando à sementeira, tudo igual. A transplantação, idem. Mas usam também fazer as carreiras de covas entre os pés de milho pardejando, donde se vê que a sementeira é feita, então, muito mais tarde, em novembro.
Capação, colheita, folhas ponteiras e baixeiras, idem. Distância menor entre as covas e maior entre as filas.
O fumeiro ao desolhar, vê as folhas se não tem bichos. Aliás, já as plantinhas nos canteiros são atacadas pelo pulgão. Nas folhas, a taturana e o mandarová.
Quanto ao fabrico, não há o cambito, cocham-se na perna, na mesa, as folhas, para constituírem as cordas ou tripas.
A bolandeira chama-se grade.
Estas duas diferenças podem provir de tradições paulistas anteriores às técnicas, comprovadamente mineiras de São Miguel Arcanjo.
Diferenças pequenas.
Da grade, saem "cavacos" que, socados em gomos de taquaruçu, e não torcidos, dão o bom fumo "piocuá".
Nos quarenta dias ao sol, o fumo está "melando".
Guarda-se em garrafas esse mel, que é remédio aprovado para uso externo de gente e de gado.
Mel "melado", o fumo azeda.
A gente do centro conhece ainda o fumo jorginho, o jorge grande, o gambá, o orelha de burro.
O goiano vem em caixas e não é torcido, justapõem-se as quatro cordas.
Será bom lembrar que das sequeiras se obtém fumo ruim.
Uma enciclopédia italiana, a LEXICON VALARDI, calcula em cerca de 50 as espécies de gênero NICOTIANA TABACCUM, família das solanáceas, sendo quase todas americanas.
Informou-nos sobre a técnica usada em São Miguel Arcanjo, o revmo. pároco HUMBERTO GHIZZI".