segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

DESFILE DE PRIMEIRO DE ABRIL










Sabe aquela marcha, pam pam parampam pam pam, depois aqueles assovios, pam pam?
Quem assistiu A Ponte do Rio Kway, tem ela guardada. 
Fiquei muito tempo até descobrir o nome – Colonel Bogey. 
Vez ou outra, passo pelo Youtube para ouvir algumas versões. A que mais gosto é de Chet Atkins com Boston Pops. 
Hoje, tarde chuvosa, domingo de Páscoa, estou pensando o que significam quarenta anos. 
Qual a relação? 
Sem filosofia, quero mais dizer, entrei no clima na quinta passada, primeiro de abril de dois mil e dez. 
Saí de Piracicaba, cheguei a São Miguel, no meio do desfile comemorativo do aniversário da cidade, pelas dez da manhã. Todos aqueles alunos das escolas, que saudade, imaginem agora o significado de quarenta anos... Imaginaram? 
Fui em dois mil e dez, cheguei em mil novecentos e setenta, não podia ser outra data, era eu mesmo no meu desfile, eu mesmo de porta-bandeira, a mesma rua, o mesmo tudo. 
Deixei o carro um quarteirão longe, entrei em casa 
– Oi mãe, oi não-sei-quem... 
Saí à rua lépido, ainda mais com sonho realizado, estava de ray-ban aviator. 
Desci à praça, tudo, mesmo tudo, ninguém me tirou nada. 
Voltei aos dezesseis, tive certeza, encontrei a Gracinha e a Maria Luiza
– Oi Jairinho. 
Mesma entonação. 
Sorri e me senti aquele mesmo menino, carregando a bandeira, ali no meio da rua marchando. 
Chega de mesmo, mas, fazer o que – era eu mesmo, no meu passado. 
Ninguém me tira essa viagem. 
Fiquei por ali, subindo e descendo ao longo do desfile e daqueles alunos e professores, imaginando todos aqueles passados pela minha viagem, quando encontrei o San 
– Oi, tudo bem? 
Tudo. Tá vendo a meninada, bonito não? Somos nós, seu bobo! Pensei, mas não falei. Falamos de nossas coisas atemporais. Aí, ele lembrou-se de um outro desfile, quando fomos índios – eu, ele e o Zé Dias, num carro alegórico que falava de bandeirantes e conquistas. O Joaquinzão era o bandeirante. Acho que foi em sessenta e seis. Demos risadas, comentamos mais algumas coisas – Tchau e um abração. 
O locutor anunciou a última escola, olhei a praça e andei. 
Entre esses dois primeiros de abril, pouca coisa tenho a lembrar sobre desfiles – Uma imagem de duas motos do tiro de guerra abrindo caminho, naquele desfile de cinco de novembro de mil novecentos e setenta e um, aniversário de Itapetininga. A Lígia chorando, pois deixei-a sozinha e fui ver a banda tocar, desfile de sete de setembro, ela devia ter uns oito ou nove e nem desfilou. 
Adivinhe o que a banda tocou? 
Tenho, também, algumas fotos, uma do meu primeiro desfile, sessenta e cinco, tirada do cinema e mostra uma parte histórica da praça. 
Está no Orkut e tem mais. 
Andei, e pé ante pé, cheguei à casa da minha mãe já neste ano. Fui buscar o carro, entrei, almoço pronto, conversa vai, vem. Sempre a mesma coisa, tudo igual, disse a D. Cida. 
Mãe, não é não, cada um sabe bem o seu significado e o que vai levar. Talvez uns dois ali vieram de dois mil e cinqüenta, vai saber. 
Eu estava em setenta. Assim, me despedi, entrei no carro e sem carteira de habilitação saí para São Paulo, pois só tirei a carta aos dezenove. 
Que estrada ruim, certeza de não estar no futuro, era a mesma buraqueira. Nessas minhas andanças, nunca mais vi um desfile, nem pela televisão. No cinema, só os soldados ingleses desfilando e assoviando ao som do Colonel Bogey, daí a relação. Desde quinta, estou indo e vindo nesses dois primeiros de abril, quarenta anos um do outro. São inseparáveis, fazem parte da minha vida e se completam. Naquele carregava a bandeira, neste olhava, sensação única de estar em dois lugares, menino e homem. 
Naquele, queria ser o homem que sou. Neste, queria ser o menino que fui. 
Hoje, ao som de..., adivinhem, quero ser os dois. 
Ano que vem, não vejo a hora do desfile. 
Jairo A. Costa Jr.
(Transcrito do blog "Chãomiguelense", de Paulo Manoel Silva Filho)

FILHO E AMIGO PRANTEIAM PAULO MANOEL SILVA, O PAULICO BRANDÃO


 

























O filho Paulo Manoel Silva Filho:
"Se aquela cadeira falasse... 
Sentaram-se nela, várias pessoas. Algumas importantes, outras nem tanto. 
Prefeitos, vereadores, professores, doutores, padres, estudantes, mecânicos, gerentes de banco, caminhoneiros, boleiros, boêmios; bons e maus pagadores... 
Hoje, aquela mesma cadeira permanece na ativa. 
Talvez não com aquele glamour de outrora. 
Garotinho ainda, entre 06 e 07 anos, o “Salão Central” era meu ponto favorito na praça, além do que o barbeiro era meu pai. Mas não era só por isso. 
Gostava de ver meu pai trabalhando. 
Gostava de ouvir histórias, causos, novidades, que a toda hora chegavam pelos fregueses. 
Gostava de sentar-me naquela cadeira de couro vermelho e me fazer girar, mas também não escapava de varrer o chão de ladrilhos brancos e vermelhos gastos pelo tempo e que ficavam cobertos de cabelos. 
Isso sempre me rendia uns trocados. 
Era um ambiente quase que exclusivamente masculino o que fazia com que eu me sentisse um homem naquele local. 
Ficava imaginando quando é que eu iria fazer a barba com aquelas navalhas... 
Esse ambiente de “homens” às vezes era quebrado por alguma mãe que levava o filho pelo braço e dizia ao meu pai: 
- Paulico, corta americano! 
Não sei se aquilo era um castigo para o filho; a cabeça toda raspada, preservando aquele topetinho no alto, era o fim, mas fazer o que. 
Pra não acompanhar a tosa pelo espelho, com os olhos buscava outras coisas pelo salão, como folhinhas, cartazes, desenhos. Lembro-me de alguns, como o amigo da onça, bem de vida, cercado de mulheres e ao lado um mendigo, com seu saquinho às costas e o amigo da onça dizendo "ele fez fiado". 
Lembro-me também dos perfumes, lembrança que vem do olfato: Água Velva. Ainda hoje, fecho os olhos e sinto o perfume daqueles vidrinhos verdes, amarelos e vermelhos. 
Outra lembrança bem viva é o nome do fabricante da cadeira de barbeiro gravado no apoio dos pés, que na realidade eu lia bem porque não alcançava o apoio e meu pai colocava uma tábua sobre os braços da cadeira para que eu ficasse na altura para possibilitar o corte do cabelo. 
Acho que o nome FERRANTE foi a primeira palavra que aprendi a ler. 
Este nome forte e marcante ficou em minha memória.


Já não há barbeiros 
Nem cadeiras de barbeiro, 
Onde nos possamos sentar 
E olhar, o olhar do nosso olhar 
Refletido no espelho 
Da cadeira do barbeiro, 
Onde rasam tesouras rente às orelhas, 
Enquanto nos sentamos 
Na cadeira do barbeiro, 
E pensamos em tudo e em tudo 
Porque temos tempo para pensar 
Para refletir e analisar 
Quando estamos sentados 
Na cadeira do barbeiro, 
Sem outro remédio senão 
Fitarmo-nos continuamente 
E ver quem fomos, quem somos 
E quem viremos a ser 
Num mundo onde já não há 
Cadeiras de barbeiro."

E o amigo Ary Leme Pinheiro:





PRIMEIRA COMUNHÃO DE VITORINO FRANÇA