
O filho Paulo Manoel Silva Filho:
"Se aquela cadeira falasse...
Sentaram-se nela, várias pessoas. Algumas importantes, outras nem tanto.
Prefeitos, vereadores, professores, doutores, padres, estudantes, mecânicos, gerentes de banco, caminhoneiros, boleiros, boêmios; bons e maus pagadores...
Hoje, aquela mesma cadeira permanece na ativa.
Talvez não com aquele glamour de outrora.
Garotinho ainda, entre 06 e 07 anos, o “Salão Central” era meu ponto favorito na praça, além do que o barbeiro era meu pai. Mas não era só por isso.
Gostava de ver meu pai trabalhando.
Gostava de ouvir histórias, causos, novidades, que a toda hora chegavam pelos fregueses.
Gostava de sentar-me naquela cadeira de couro vermelho e me fazer girar, mas também não escapava de varrer o chão de ladrilhos brancos e vermelhos gastos pelo tempo e que ficavam cobertos de cabelos.
Isso sempre me rendia uns trocados.
Era um ambiente quase que exclusivamente masculino o que fazia com que eu me sentisse um homem naquele local.
Ficava imaginando quando é que eu iria fazer a barba com aquelas navalhas...
Esse ambiente de “homens” às vezes era quebrado por alguma mãe que levava o filho pelo braço e dizia ao meu pai:
- Paulico, corta americano!
Não sei se aquilo era um castigo para o filho; a cabeça toda raspada, preservando aquele topetinho no alto, era o fim, mas fazer o que.
Pra não acompanhar a tosa pelo espelho, com os olhos buscava outras coisas pelo salão, como folhinhas, cartazes, desenhos. Lembro-me de alguns, como o amigo da onça, bem de vida, cercado de mulheres e ao lado um mendigo, com seu saquinho às costas e o amigo da onça dizendo "ele fez fiado".
Lembro-me também dos perfumes, lembrança que vem do olfato: Água Velva. Ainda hoje, fecho os olhos e sinto o perfume daqueles vidrinhos verdes, amarelos e vermelhos.
Outra lembrança bem viva é o nome do fabricante da cadeira de barbeiro gravado no apoio dos pés, que na realidade eu lia bem porque não alcançava o apoio e meu pai colocava uma tábua sobre os braços da cadeira para que eu ficasse na altura para possibilitar o corte do cabelo.
Acho que o nome FERRANTE foi a primeira palavra que aprendi a ler.
Este nome forte e marcante ficou em minha memória.
Já não há barbeiros
Nem cadeiras de barbeiro,
Onde nos possamos sentar
E olhar, o olhar do nosso olhar
Refletido no espelho
Da cadeira do barbeiro,
Onde rasam tesouras rente às orelhas,
Enquanto nos sentamos
Na cadeira do barbeiro,
E pensamos em tudo e em tudo
Porque temos tempo para pensar
Para refletir e analisar
Quando estamos sentados
Na cadeira do barbeiro,
Sem outro remédio senão
Fitarmo-nos continuamente
E ver quem fomos, quem somos
E quem viremos a ser
Num mundo onde já não há
Cadeiras de barbeiro."
E o amigo Ary Leme Pinheiro:
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