segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

FILHO E AMIGO PRANTEIAM PAULO MANOEL SILVA, O PAULICO BRANDÃO


 

























O filho Paulo Manoel Silva Filho:
"Se aquela cadeira falasse... 
Sentaram-se nela, várias pessoas. Algumas importantes, outras nem tanto. 
Prefeitos, vereadores, professores, doutores, padres, estudantes, mecânicos, gerentes de banco, caminhoneiros, boleiros, boêmios; bons e maus pagadores... 
Hoje, aquela mesma cadeira permanece na ativa. 
Talvez não com aquele glamour de outrora. 
Garotinho ainda, entre 06 e 07 anos, o “Salão Central” era meu ponto favorito na praça, além do que o barbeiro era meu pai. Mas não era só por isso. 
Gostava de ver meu pai trabalhando. 
Gostava de ouvir histórias, causos, novidades, que a toda hora chegavam pelos fregueses. 
Gostava de sentar-me naquela cadeira de couro vermelho e me fazer girar, mas também não escapava de varrer o chão de ladrilhos brancos e vermelhos gastos pelo tempo e que ficavam cobertos de cabelos. 
Isso sempre me rendia uns trocados. 
Era um ambiente quase que exclusivamente masculino o que fazia com que eu me sentisse um homem naquele local. 
Ficava imaginando quando é que eu iria fazer a barba com aquelas navalhas... 
Esse ambiente de “homens” às vezes era quebrado por alguma mãe que levava o filho pelo braço e dizia ao meu pai: 
- Paulico, corta americano! 
Não sei se aquilo era um castigo para o filho; a cabeça toda raspada, preservando aquele topetinho no alto, era o fim, mas fazer o que. 
Pra não acompanhar a tosa pelo espelho, com os olhos buscava outras coisas pelo salão, como folhinhas, cartazes, desenhos. Lembro-me de alguns, como o amigo da onça, bem de vida, cercado de mulheres e ao lado um mendigo, com seu saquinho às costas e o amigo da onça dizendo "ele fez fiado". 
Lembro-me também dos perfumes, lembrança que vem do olfato: Água Velva. Ainda hoje, fecho os olhos e sinto o perfume daqueles vidrinhos verdes, amarelos e vermelhos. 
Outra lembrança bem viva é o nome do fabricante da cadeira de barbeiro gravado no apoio dos pés, que na realidade eu lia bem porque não alcançava o apoio e meu pai colocava uma tábua sobre os braços da cadeira para que eu ficasse na altura para possibilitar o corte do cabelo. 
Acho que o nome FERRANTE foi a primeira palavra que aprendi a ler. 
Este nome forte e marcante ficou em minha memória.


Já não há barbeiros 
Nem cadeiras de barbeiro, 
Onde nos possamos sentar 
E olhar, o olhar do nosso olhar 
Refletido no espelho 
Da cadeira do barbeiro, 
Onde rasam tesouras rente às orelhas, 
Enquanto nos sentamos 
Na cadeira do barbeiro, 
E pensamos em tudo e em tudo 
Porque temos tempo para pensar 
Para refletir e analisar 
Quando estamos sentados 
Na cadeira do barbeiro, 
Sem outro remédio senão 
Fitarmo-nos continuamente 
E ver quem fomos, quem somos 
E quem viremos a ser 
Num mundo onde já não há 
Cadeiras de barbeiro."

E o amigo Ary Leme Pinheiro:





Nenhum comentário:

Postar um comentário