sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

BAIRRO DOS MORAIS


O CAMINHO DA FÉ



Em nome da fé, o que buscam os peregrinos que existem desde que o mundo é mundo? 
Com certeza, procuram respostas às tantas e tantas questões não resolvidas com relação ao Criador do Universo. 
O que fez Maomé em nome da fé? Obrigou seus fiéis a visitarem Meca e Medina.
A felicidade, a saúde e a longevidade são encontradas pelos indus nas águas do Rio Ganges.
Abrão saiu da Caldeia em busca de Canaã, a Terra Prometida. 
Durante quarenta anos, Moisés caminhou com seu povo.
Para encontrar-se com Deus no monte Horeb, Elias atravessou um deserto. 
E o que fez Davi? 
Foi peregrino em sua própria terra. No Bairro dos Morais, a cerca de 22 quilômetros da cidade de São Miguel Arcanjo, a mais de 30 quilômetros do centro do município de Capão Bonito e a uns 8 quilômetros do Bairro de Taquaral, existe um lugar sagrado, um sacrário. 
De um lado, o Ribeirão dos Morais ou dos Pios, de outro, o Rio Taquaral, de um outro lado, a Estância Rio Taquaral e as terras que antes pertenceram a um senhor chamado Boaventura.
Todo primeiro dia de maio, uma pequena multidão de fíéis visitam a capelinha de Santa Cruz, localizada em meio a uma vasta plantação às vezes de feijão, às vezes de milho.
É gente pagando promessas, pedindo bençãos, orando, entoando cantos. É gente chegando pela primeira vez.
São rezadores e festeiros apressados.
São novos mastros sendo elevados, porque os dos anos anteriores devem ser destronados já que as intempéries do tempo acabaram por arruinarem todo o material. 


A ORIGEM 


Há mais de dois séculos, ali mesmo onde hoje se acha instalado o altar dedicado à Santa Cruz, já havia uma cruz fincada no meio da mata virgem.
Quem estaria enterrado ali?
Alguns arriscam afirmar que poderia ser algum tropeiro que foi morto durante a viagem.
Outros acreditam ser de alguma escrava ainda menina que, desvirginada pelo mau patrão, cortou o próprio pescoço, sangrando até morrer.
E outros ainda acreditam fortemente na lenda da criança morta em consequência da mordedura de cobras.
E ali é mesmo um santuário de cobras: muitas cobras habitam o lugar.
Aconteceu que algumas pessoas, com o tempo, foram cultuando o local e tornou-se comum ali serem enterradas crianças prematuras que nasciam mortas. 
Um século mais tarde, começaram a haver visitações e as rezas a Santa Cruz tornaram-se anualmente frequentes.
Os proprietários Bento Eugênio de Toledo, depois seu filho, João Bento, descendentes do Tenente Urias Emigdio Nogueira de Barros, resolveram ali construir uma capela. Feita de barro, era coberta com telhas de cocho fabricadas por uns velhos escravos. Tão pequena, a princípio não abrigava mais de cinco pessoas. Devotos de São Bento, os proprietários decidiram que o patrono da capelinha dedicada à Santa Cruz seria o mesmo São Bento, o que livra das cobras, tal qual a trovinha conhecida: 

"Meu São Bento, água benta,
Jesus Cristo no altar. Cobrinha, baixa a cabeça 
Para este cristão passar".


Nessas festas, oferecem-se flores, lembrancinhas em intenção das crianças e um licor que é passado de festeiro a festeiro, além de um estupendo churrasco, bolos, refrigerantes,etc.
Anualmente, cerca de quatro festeiros se revezam e se responsabilizam pelo recebimento de fiéis.
Há um festeiro para a bandeira, outro para o mastro e dois outros, rezadores. Os festeiros do ano é que escolhem os próximos festeiros, passando-lhes um brinde.
Como se fora uma senha.
Antigamente, o brinde era uma garrafinha de licor.
Hoje, a capela foi ampliada, cabendo nela umas cem pessoas.
Os bancos foram doados pela senhora Ana Nogueira.
A imagem de São Bento foi doada por Alice Nogueira.
Durante o ano todo, a capela permanece fechada; só vem nela rezar os proprietários das terras.
São eles que durante o ano todo carpem ao redor, lavam e limpam o altar, trocam as flores.
São os irmãos João e Pedro Eugênio dos Santos.
A bandeira tem que ser trocada a cada ano; o festeiro pode pintá-la como quiser, mas jamais deve esquecer da santa cruz.
Ali não há banheiro, nem energia elétrica ou água encanada, mas cada encontro é uma grande festa.
Muitas pessoas de fora também visitam o local. 
E são tantas as pessoas que comparecem a esse encontro da fé que acontece todo dia 01 de maio, que já mereceria figurar no calendário turístico da região.


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