sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

BAIRRO DE CAPÃO RICO


Nossa Senhora da Penha é a santa padroeira do lugar. 
Uva, batata, feijão e gado de corte movimentam a sua economia.
Dista cerca de 6 quilômetros da sede do município.
Morador no bairro por 18 anos, o Vitalino Brisola, filho de Vitor do Nascimento Brisola e Maria Ferreira de Queiroz, foi um feliz proprietário de carvoaria na localidade. 
Vitalino nasceu em 28 de setembro de 1.916 no município de Capão Bonito; em São Miguel serviu a igreja católica durante quinze anos, de coroinha a sacristão, de varredor de chão a batedor de sino e até aprendeu as manhas para ornamentar o templo e a fazer velas com o Leôncio de Góes. 
Como ele mesmo diz, aquele tempo era um tempo de fiéis, realmente.





No ano de 1.953, o Bairro foi alvo de uma grande queimada, conforme foi noticiado pelo jornal "O Estado de São Paulo", em data de 30 de agosto de 1.953, no seguinte teor:

"Lavra, neste município, há cerca de 15 dias, incêndio de grandes proporções, tendo recrudescido de violência nestes últimos 3 dias, por ação do vento noroeste.
O incêndio foi provocado por queimadas e atingiu numerosas propriedades agrícolas, como Fazenda Agropecuária, Fazenda Balboni e matas do Lajeado, Justinada, Alegre, Turvinho, Facão, Capão Rico, etc.

Os prejuízos são consideráveis, pois nestes últimos 3 dias o fogo atingiu pastagens, casas de lavradores e carvoarias".


Joaquim Rodrigues dos Passos, na década de 60, lá pagava impostos como comprador de gado.
Rufino Macedo, casado com dona Cecília também era do Bairro.
A história dele, passamos a contar:

RUFINO MACEDO OU
"COMO SE MATA UM BRAVO"



Chamava-se Rufino Macedo.
Morador no Bairro do Capão Rico, em São Miguel Arcanjo, era lá agricultor e tinha muitas posses.
Na despensa de casa, do piso até o teto, uma sacaria que dava para saciar a fome de todos os soldados da guerra de 32.
No quintal, cabritos, galinhas e porcos passeavam, brigando entre si.
Na invernada, o gado pacientemente engordava.
Rufino, por essas e outras coisas, era um homem brioso e de muita fibra.
Sentia um baita orgulho do próprio nome.
Era comum vê-lo cumprindo promessas em Iguape.
Quando para lá se dirigia, levava sempre a mulher, dona Cecília.
Na volta, era só festa.
Ninguém passava fome estando ao lado de Rufino Macedo.
Como todas as pessoas, ele também tinha seu bicho de estimação.
Era a mula Dengosinha.
Por todo lado, sempre levava a mulinha; não montado nela, mas a sua frente.
Aonde ele precisasse chegar, ela conhecia o caminho e sempre chegava na frente dele.
Um dia de sexta-feira, Rufino precisou comprar querosene para usar na fazenda.
Os lampiões estavam secando e, quando isso acontecia, dona Cecília ficava brava.
A mula na frente, ele atrás, com o Bainho, admirando o horizonte.
Uns dois quilômetros e já estaria na venda do Nhonhô Fogaça.
De repente, não viu mais a mula.
Apressou o cavalo e viu que uma mulher já havia aberto a porteira do Antão Rodrigues para a Dengosinha e corria atrás dela.
Esporeou o cavalo.
Quanto mais ele corria, mais a mulher corria pensando que ele corria atrás dela.
Tanto que denunciou o fato ao Inspetor de Quarteirão que lhe deu um pito tão grande que fez com que o homem se tornasse de novo em um rapazinho.
Uma calúnia!
Uma vergonha!
Nunca mais Rufino Macedo foi o mesmo.
Passava os dias taciturno, macambúzio. Parecia até tecer um plano, ele que nunca foi vingativo.
Os romeiros se aprontando para a caminhada a Iguape.
Rufino também. Só que desta vez não levaria dona Cecília e nem tinha promessas para cumprir.
Diante do santo, orou muito, chorou as mágoas guardadas no peito, pediu perdão pelas coisas que nem fizera na vida.
A certa altura do caminho, entrou na mata para esvaziar as tripas e nunca mais regressou.
Encontraram Rufino morto com o pescoço enleado num cipó.
Deus o tenha, Rufino Macedo!

- Transcrito do livrete "Causos e Conformes", Editora Trombetti, 2.010, idealização Ascasma.


Nenhum comentário:

Postar um comentário