quarta-feira, 20 de junho de 2012

A RELIGIOSIDADE DO POVO SÃOMIGUELENSE.

Conforme se insere do jornal ‘O Progresso’, de 17 de abril de 1.932, antes que o povo da cidade se tornasse esse mar de devotos, muito suor teria que derramar o querido Monsenhor Henrique Volta. 
Antes dele, muito antes dele, poucos tentaram a façanha de catequizar o povo de São Miguel Arcanjo. 
A criação da Paróquia, em 1866, não teve nenhum benefício, pois só vinte anos depois é que foi nomeado o primeiro vigário para a localidade que se compunha, na época, de umas 8 ou 10 casas espalhadas pelas capoeiras. 
Esse primeiro padre, Vicente Gandinieri, no entanto, gostava mais de praticar a agricultura e a pecuária do que promover a própria religião; os fiéis apenas se dirigiam para a igreja quando era organizada alguma festa profana para acompanhar os cultos ou nos deveres de batismo e de casamento, considerados de obrigação social. 
Assim, esse padre pediu logo sua remoção daqui para Pilar do Sul, lá permanecendo até 1.889. 
A capela estava bem envelhecida e já necessitava de reforma em 1875, ameaçava desabar. 
Mas quem ligava para isso? 
Depois de quatorze anos é que foi nomeado para cá o segundo padre, também italiano, Nicolau Paragio, que nem sabia falar o idioma português, porém logo sentiu que havia sido jogado em pleno domínio de ateus e protestantes, extremamente relaxados para com as coisas da cultura espiritual, não ficando por aqui mais do que dois anos. 
Depois dele, tomaram conta do rebanho os padres Donnaruma, Vigorita e Viteli, que também foram se retirando, extremamente desenganados com as ovelhas e com a impossibilidade de qualquer progresso, tanto espiritual como material da paróquia. 
Em 1911, o Cônego Cizenando da Cruz Dias, de Itapetininga, conseguiu tocar o coração do povo são-miguelense para se construir uma nova capela, o que aconteceu, a princípio, porém, a ideia não vingou. 
Mas não era só na parte espiritual que a população de São Miguel padecia. Padecia e morria também aos poucos devido às inimizades políticas, às calúnias, às traições, às invejas. 
Havia aqui algumas “panelas” e alguns chefes que davam as ordens e manipulavam o povo, que desta forma continuou a viver sem confissão e a morrer sem receber a extrema unção. 
Tanto com relação ao Templo como em relação aos prédios particulares, tudo caminhava para a derrocada. 
De ruína em ruína, caminhava a cidade para unir-se ao grupo das cidades mortas do estado de São Paulo, a passos rápidos e inatacáveis, conforme a imprensa noticiava. 
Finalmente, no dia 21 de janeiro de 1913 chegava aqui o Monsenhor Henrique Volta, conquistando as pessoas pelo amor devotado ao lugar e ao seu padroeiro, São Miguel Arcanjo. 
Descendente em linha reta do físico italiano Alexandre Volta, nasceu em Novelara, situada na Província de Reggio Emilia e era filho de Dom Giovani Volta e Anunziata Spagiari. 
Depois de receber as ordens sacerdotais, foi nomeado vigário de sua cidade natal, pertencente à Diocese de Guastala. 
Em 27 de janeiro de 1.904 recebeu o título de Monsenhor Camareiro de Honra de SS. Pio X, com direito ao uso dos hábitos roxos. 
Quando veio para o Brasil, recebeu licença de seu Bispo, D. Agostinho Cataneo, licença que foi sendo prorrogada a seu pedido, até o ano de 1.932. 
Uma vez em São Miguel Arcanjo, deparou com um povo que desconhecia qualquer Irmandade e não tinha o hábito da confissão. Tanto que no primeiro ano administrou apenas 150 comunhões. 
O sonho do Monsenhor era construir uma nova igreja, mas a população não tinha condições econômicas o bastante para ajudá-lo. 
Do seu tempo, no entanto, a fundação da Associação do Santíssimo Sacramento, do Sagrado Coração de Jesus, de São Luiz e dos Santos Anjos, da Pia União das Filhas de Maria e do Apostolado da Oração. 
O Monsenhor rezou sua última missa em 12 de abril de 1.932, deixando a paróquia aos 04 de maio de 1932, quando voltou para a Itália. 
Foi substituído pelo padre Olegário Silva Barata, que anteriormente exercia seu sagrado ministério na paróquia de Ribeirão Vermelho. 

A CARTA DE DESPEDIDA DO MONSENHOR HENRIQUE VOLTA 

‘Terminando as constantes prorrogações de licenças obtidas do meu Bispado, na Itália, para continuar nesta Paróquia como seu vigário devido à benignidade do Exmo. Revmo. D. José Carlos de Aguirre, vosso amado Bispo, e cativante gentileza dos meus paroquianos desta Freguesia, sigo, hoje, para a minha Diocese de Guastala, no meu país, onde me acharei sempre à disposição dos inúmeros amigos que aqui deixo com muitas saudades e dor de coração. 
Peço a todos que me perdoem as faltas que por acaso e involuntariamente terei cometido no ministério do meu sacerdócio, ou como particular, e que roguem a Deus Nosso Senhor pela minha alma, assim como farei, diariamente, pela prosperidade desta feliz Freguesia e deste bondoso povo são miguelense, digno, pelas suas virtudes, de receber as bençãos do Céu. 
A todas as Irmandades religiosas locais por mim fundadas, deixo o meu coração e recomendo sempre continuarem prestando serviços a nossa Santa religião católica apostólica romana, que é a verdadeira instituída por Nosso Senhor Jesus Cristo. 
A todos, pois, um adeus repassado de imensas saudades’. 
S. Miguel Arcanjo, 13 de abril de 1.932. 
a). Mons. Henrique Volta 

A CAPELA QUE QUISERAM BOMBARDEAR 

Muitos são-miguelenses auxiliaram financeiramente o Monsenhor Henrique Volta, vigário na época, nas obras de reforma da Capela dedicada a São Miguel Arcanjo, eleito padroeiro da cidade. 
Conforme publicações diversas na imprensa local, deveu-se referida reforma a contribuições de pessoas tais como Benedito de Oliveira, João Terra, Felício Machado, José Pedro Fogaça, Antonio Ferreira Leme, Antonio Demétrio, Antonio Arantes Galvão, Paulino Brizola, José Fogaça, Marciano Brizola, Antonio Alves da Costa, José Nogueira de Medeiros, Antonio e José Alves, João Balduino Xavier, João de Arruda, José dos Passos, Ademar Bittencourt, Zacarias Demétrio, Rufino Demétrio, Paulino Rocha, Vital Fogaça de Almeida, Píndaro Brisola, Matheus Haddad, Ari Galvão, Pedro Ribeiro Vaz, Benedito Munhoz, J. Colaça, a Barbearia de Góes Guedes, a moradores residentes nos bairros do Turvinho, do Moinho, as Filhas de Maria, a Colônia Sírio-Libanesa, bilheterias inteiras de várias sessões do Cinema Paraíso e de parceria com circos que visitavam a cidade, além de muitos outros anônimos, os quais somente conhecidos dos cidadãos Bento França e José Paulo do Amaral, principais auxiliares do Monsenhor nessa coleta. 
Foi essa a capela que os sulistas quiseram bombardear por ocasião da Revolução Constitucionalista. 
Mas não foi somente da religião que o Monsenhor cuidava em São Miguel. Estimulou o desenvolvimento do comércio local. Iniciou, ele mesmo, a construção de um imóvel para sua residência; este concluído, obteve alguns empréstimos e adquiriu prédios arruinados, que fazia reconstruir com boa estética e depois vender, só para deixar a cidade mais aprazível. 
O prédio grande da rua 7 de setembro, onde morou por vários anos, na confluência da Rua Governador Pedro de Toledo com a Cônego Francisco Ribeiro, foi por ele construído e vendido ao Major Luiz Válio. Outros prédios novos foram vendidos para pagamento dos empréstimos. 
As Escolas Reunidas, antes de mudar-se para a Rua Siqueira Campos, 25, num prédio construído no ano de 1.920, funcionaram num prédio construído também pelo Monsenhor e alugado ao Governo; ficava no lado direito da Igreja Matriz. 
O Monsenhor construiu ainda uma excelente casa paroquial que acabou vendendo à Câmara Municipal em março de 1.918, por 700 mil réis e mais 8 milheiros de tijolos. 

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