domingo, 27 de abril de 2014

A REVOLUÇÃO DE 1932 E A TRINCHEIRA DO GIJO VÁLIO

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O sãomiguelense Ary Leme Pinheiro deixou impresso no jornal "A Hora de São Miguel Arcanjo", edição do dia 19 de maio de 2001, um longo e belíssimo texto intitulado "A Trincheira do Gijo Válio".
Nele, além de rememorar os amigos de outrora, fala de um lugar que, supostamente, transformou-se em uma trincheira para agasalhar soldados que lutaram na célebre Revolução de 1932, a dos paulistas, que teve início a 09 de julho e durou menos de três meses.
A trincheira do Gijo, na afirmação do Ary, era o nome que a molecada da época dera """"à monumental vala rasgada pela erosão acima da primeira nascente depois da saída do lado sul da cidade, pela estrada do Turvinho, rumo ao picadão do Tenente Urias.""""
Ary evoca o saudoso Tico Medeiros:
"""" Que havia sido uma trincheira não havia dúvida. O velho e bom servente e congregado mariano, Tico Medeiros, comentava com a criançada da escola "Peixoto Gomide" sobre aquele episódio de 1932, quando a soldadesca paulista da Revolução Constitucionalista, já quase em debandada, cavocou o buraco pretendendo surpreender a horda legalista - à época chamada "gauchada" - que avançava rapidamente e já vinha perto pela linha de Buri. Dali do topo daquele outeirete era possível observar o movimento de quem chegasse à vila por todos os quadrantes. Por isso a escolha do local. 
Os que abriram aquela vala de mais ou menos umas cinquenta braças faziam parte de uma coluna avançada do batalhão paulista postado nas trincheiras do Rio das Almas, onde, asseguram os mais velhos, houve confronto em dois dias de tiroteio com sérias baixas de ambos os lados.
Na trincheira do Gijo não houve tiroteio.
E, além do mais, jurava o velho Tico, ali fora palco de um grande milagre que incluiu a aparição de São Miguel Arcanjo.
Verdade?
Mentira?
Invencionice?
O certo é que ainda existe muita gente que confirma convicta essa passagem, quando o arcanjo desceu num halo de luz para defender a velha capela construída ao tempo da Fazenda Velha...""""
E, mais adiante, a estória que o Tico contava: 
""""... Contava o velho servente da escola que, quando os "gaúchos" atingiram o local onde o grupo de soldados paulistas esteve entrincheirado por alguns dias, e não encontraram ninguém, o comandante da tropa inimiga teria ficado possesso e deu ordem para que direcionassem a boca do canhão sobre a capela, lá embaixo, onde a imagem de São Miguel Arcanjo ocupava o topo do altar, ara onde ardia perenemente a vela-símbolo da consubstanciação do sangue e do corpo de Cristo na hóstia consagrada, no mistério do Sacrário, à espera dos fiéis para o santo sacrifício do cordeiro rememorado na missa.
Depois de municiada aquela peça de artilharia pesada, teria o comandante mandado abrir fogo.
Foi nesse instante que se fez um clarão de ofuscar o sol e no rastro da luz de brilho indescritível desce das nuvens um soldado de armaduras prateadas ornadas de ouro e cravejada de brilhantes e outras pedras preciosas, que, de espada em punho, posta-se diante da boca do obus enquanto a soldadesca estupefata cai por terra.
O comandante, duro de espanto e de temor, não teria conseguido balbuciar a ordem de tiro e, mal se recompôs, ordenou a retirada da tropa.
A ermida continuou intacta.
A cidade continuou intacta.
Só não continuou intacto o patrimônio do Leôncio de Góes, o pai do Ivan, da Glorinha, do João e do diácono Zé Antonio. De pura maldade, os soldados requisitaram o único caminhãozinho que ele tinha, um Chevrolet motor "cabeça de cavalo", que nunca mais foi devolvido...""""    

O mapa acima foi reproduzido pela antiga revista O Mundo Ilustrado, do Rio de Janeiro, em edição especial comemorativa dos 22 anos da Revolução Constitucionalista de 1932, publicada em 7 de julho de 1954.
Fonte: Novo Milênio.

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