quinta-feira, 8 de março de 2012

CAUSOS DA TERRA: CADÊ OS PASSARINHOS?




Como bem lembra o João Diniz, com o tempo, até as aves se cansam de viver no mesmo lugar e partem em busca de outros ambientes um pouco mais alegres e coloridos. 

Prova disso, os ‘sem-fim’. 
São Miguel Arcanjo, algum tempo atrás, fora morada de uns passarinhos conhecidos por ‘sem-fim’. 
Geralmente de cor pardo-amarelada, eles apresentavam manchas escuras nas asas e um topete avermelhado. A garganta e o abdome eram brancos, as sobrancelhas da mesma cor e costumavam colocar seus ovos em ninhos de joão-teneném. 
Algumas pessoas chamavam esses passarinhos de piririguás, outras de fenféns, tempos-quentes...Todavia, ficaram bastante conhecidos como ‘sem-fim’, pois o seu canto era parecido com essa expressão. 
Embora muita gente ouvisse nitidamente eles gritarem ‘sem-fim’, outras juravam que não era nada disso e, sim, ‘sa-ci’ o que eles diziam. 
Sem-fim ou saci, qualquer que fosse o canto dessas aves, o certo é que já não se ouve mais por aqui. 
Conta o João Diniz que eles faziam a festa mesmo era no taquaral do Francisco Cavacini. 
- ‘Era tão bonito de ouvir!’ – suspira o João Diniz a cada vez que se lembra deles. 
Casadinho de novo, João morava longe, lá na saída para Pilar do Sul onde hoje reside a família Mendez que lhe paga aluguel. 
Trabalhando como ajudante na serraria do Wadi Hakim, muitas vezes voltava tarde para casa. 
Até que uma noite... 
Era uma sexta-feira. Mês de agosto. Teve festa na Vila e ele, como bom vicentino que era, pôs-se a auxiliar o pessoal da quermesse e depois na limpeza geral. Quando resolveu ir embora, era mais de onze e meia da noite. 
Acompanhado do Nicanor Monteiro, apelidado de Beronha, um cabra medroso pra mais de metro, lá foram os dois, pisando depressa pela estrada de terra. 
-‘ Ainda bem que não choveu!’ – asseverou o João. 
De repente, um barulho no mato. Passos. Corrida. 
O que? 
Pelo rabo dos olhos eles puderam ver: 
-‘Credo, Beronha, os cavalos do Cavacini pastando de noite?’. 
Noutro repente, uns assobios. 
- ‘Devem ser dos passarinhos, dos ‘sem-fim’, ou dos ‘sacis’. 
Mais assobios. E ali pertinho. 
Não, não eram de passarinhos. Pareciam assobios de verdade. O Beronha a ponto de desmaiar. 
O João? Nem sabia por onde andavam as calças, muito menos as pernas. Eta, macho! 
Nesse instante foi que os cavalos desembestaram. E os dois homens também. Não antes de verem, montado em cima de um deles, um vulto preto, pequeno, lascando fogo de um enorme cachimbão preso na boca. 
O Beronha só olhou para o João Diniz...este acabou encontrando as próprias pernas e ambos debandaram a correr mais do que os cavalos do Cavacini. 
Depois dessa noite, a mulher do João passou a ver o marido em casa antes da lua aparecer no céu. 
Sempre achou que era por amor. 



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