O Olímpio França era uma pessoa de muita coragem.
Nos anos 70 era tido como um dos poucos cidadãos são-miguelenses que se atreviam a reivindicar melhorias para a cidade e assinar embaixo delas.
Foi dono de um armazém na Rua Siqueira Campos. Justamente nessa época, começou a rolar por ali a conversa de que o barracão do pai do Miguel Machado, avô do João Machado, o das ervas, estava assombrado. Já não morava ninguém lá, desde que pegara fogo devido a uma vela acesa que caíra na mesa que servira de altar, logo depois que a família residente no local recebeu a visita de uma santa em peregrinação.
Os Machado, nessa época, representavam em São Miguel o ‘Laboratório Catedral’ que também era dono dos cigarros ‘Catedral’.
O barracão ficava na Rua Dr. Júlio Prestes.
Foi então que a assombração no barracão começou a aguçar os neurônios do ‘seu’ Olímpio. Já não dormia direito só de pensar no tal ‘diabo’ que diziam viver por aqueles lados na parte baixa da cidade.
Algumas pessoas tinham visto até os chifres dele.
Durante a noite, ficavam tão grandes, que a sombra deles aparecia do outro lado do quarteirão.
Não dava mais.
‘Seu’ Olímpio esperou chegar aquela segunda-feira meio fria, as pessoas se recolhendo mais cedo com medo do minuano. Fechou o armazém, disse para a família que ia jogar um baralhinho no Clube e, pé ante pé, sozinho, de farolete na mão, lá foi o valente para os lados do barracão assombrado.
Sabendo que havia um poço desativado no quintal, bem próximo ao barracão, procurou achá-lo com a luz do farolete. Foi quando então sentiu um arrepio dos pés aos cabelos da cabeça e o frio adormeceu a mão que alumiava a noite.
Senhor do céu!
Tinha alguém ali!
Sentiu a respiração de alguém.
Era dele? Não, não era dele, não.
Recuar? Orar para Deus? É, orar para Deus Nosso Senhor.
Respirou fundo, uma, duas vezes, tremendo. Quando ele divisou os chifres da ‘coisa’, o farolete lhe caiu das mãos. Atordoado, apalpou o mato. Um matagal danado! Percebeu que o ‘bicho’ abanava os chifres. Negro que nem carvão!
Olímpio deu uma deitada no chão, meio amolecido, meio arrependido de não ter acreditado logo que era mesmo assombrado o barracão.
Foi aí que a lua no céu se livrou de uma nuvem ondulada e Olímpio pode ver...
Barbaridade!
Era só o que faltava!
Como cairam todos naquela armadilha?
Era o bodão do Evangelino Marcelo dormindo em cima da laje.
Mistério decifrado, no dia seguinte a cidade conheceria um novo herói.
Mistério também a calça marrom do ‘seu’Olímpio que amanheceu já lavada, estendida no varal.
Por que será??
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